SpaceX atinge marcos com Starlink e Starship, mas corrida contra o tempo para missão lunar se intensifica

SpaceX ultrapassa 10.000 satélites Starlink

A SpaceX atingiu um marco impressionante neste domingo, ultrapassando o total de 10.000 satélites Starlink lançados para a órbita baixa da Terra após o envio de mais 56 unidades. Este lançamento, realizado por foguetes Falcon 9, marcou o 132º voo do Falcon 9 em 2025, igualando o recorde anual anterior da empresa, com mais de dois meses restantes no ano.

Embora o número de lançamentos seja expressivo, dados do rastreador de satélites Jonathan McDowell indicam que cerca de 8.608 desses satélites estão atualmente operacionais. Os satélites Starlink são projetados para uma vida útil de aproximadamente cinco anos, antes de serem intencionalmente retirados de órbita para queimar na atmosfera. A SpaceX, que iniciou os lançamentos de protótipos em 2018 e o serviço comercial em 2021, já possui aprovação para lançar 12.000 satélites, com planos de expansão para mais de 30.000. Esse rápido crescimento, no entanto, levanta preocupações sobre o congestionamento orbital, à medida que concorrentes como o Projeto Kuiper da Amazon e iniciativas na Europa e China também planejam suas próprias megaconstelações.

Onze voos de teste bem-sucedidos da Starship

Paralelamente ao sucesso operacional do Falcon 9 e do Starlink, a SpaceX avança com seu veículo de próxima geração. O foguete Starship, o mais potente já construído, decolou e pousou com sucesso em seu 11º voo de teste na semana passada, partindo do Texas. Durante a operação, o propulsor do foguete acionou todos os 33 motores para a decolagem, e a própria espaçonave disparou outros seis motores para romper a atmosfera terrestre. A empresa de Elon Musk também confirmou que, durante o teste, a Starship liberou oito satélites simulados e reiniciou um de seus motores no espaço.

A corrida contra o relógio para a missão Artemis III

O foguete Starship é a peça central para a missão Artemis III dos Estados Unidos, atualmente programada para 2027. Esta missão histórica levará humanos de volta à superfície da Lua pela primeira vez desde a década de 1960, com o objetivo final de utilizar a tecnologia para eventuais missões a Marte na década de 2030. No entanto, apesar do sucesso do 11º voo, especialistas da indústria espacial alertam que “o tempo está basicamente se esgotando” para cumprir o prazo da Artemis. A complexidade aumenta porque a Starship está sendo desenvolvida simultaneamente para três missões distintas: o lançamento de satélites Starlink de segunda geração, as missões Artemis e a futura exploração de Marte.

O desafio de alcançar a órbita

Especialistas apontam que muitos obstáculos técnicos precisam ser superados. Lars Petzold, pesquisador do European Science Policy Institute (ESPI), observa que a SpaceX está usando esses testes para construir capacidades “incrementalmente”. O próximo passo crucial é demonstrar que a nave pode atingir uma órbita completa. “Por enquanto, todos os lançamentos da Starship foram suborbitais”, explicou Petzold. Pierre Lionnet, diretor da associação industrial ASD-Eurospace, concorda, destacando que o status suborbital significa que a Starship ainda não conseguiu demonstrar uma de suas funções operacionais chave: colocar satélites em órbita, algo que ele esperava ver já no segundo ou terceiro lançamento.

A complexidade do reabastecimento espacial

Após atingir a órbita, a SpaceX enfrentará um desafio talvez ainda maior: demonstrar a transferência de propelente para reabastecer a Starship no espaço. Petzold classifica essa capacidade como “crucial” para missões lunares ou marcianas, que exigem muito mais combustível do que um único lançamento pode carregar. Lionnet descreve a manobra como um “feito importante que nunca foi realizado antes”. O processo envolve mover centenas de toneladas de gás líquido entre duas naves em um ambiente sem gravidade. “Todos estão convencidos de que isso é algo muito complexo de se alcançar”, acrescentou Lionnet.

Dez a vinte testes adicionais necessários

Sobre a viabilidade do prazo de 2027 para a Artemis III, Petzold permanece cauteloso. Ele estima que serão necessários pelo menos mais 10 ou 20 testes bem-sucedidos antes que a NASA possa considerar seguro colocar astronautas a bordo da Starship. Esse cronograma apertado depende, crucialmente, que não ocorram falhas significativas nos próximos voos que exijam longas pausas para investigações.